29 de out. de 2021

Minha Capoeira tem balanço l Porto, Portugal


"Minha Capoeira
Vive de Balanço e harmonia
Fundamentos importantes
que aprendi lá na Bahia..."

 Mosteiro da Serra do Pilar - Vila de Gaia - Portugal.

Assista vídeo no Porto...
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=5037425482939501&id=100000162981952

Workshop na Suiça l outubro.2021


Ontem o evento foi um sucesso em Lausanne. 

Grata ao Cm Cesar @biribas_capoeira e professora Viola pelo acolhimento.

Gratidão ao mestre Braga pelas histórias da Capoeira Angola e do GCAP no Rio de Janeiro.

Ao mestre Arquimedes, Cm Estrela e Cm Nanã pelo ReEncontro... 

Deixamos, eu e Mestre Jean Pangolin @mestre_jean_pangolin, a Suiça, rumo a Porto - Portugal...

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Peregrinação no Caminho de Santiago Concluída!!!


Peregrinação rumo a Santiago de Compostela ••• CHEGAMOS!!!

Dia 11 (09.10.2021)... 240 km feitos a pé

 O Faramello (Concelho de Theo - Albergue de Peregrinos de Teo) ••• Rua de Francos ••• Ameneiro ••• A Agrela ••• O Milladoiro ••• A Rocha velha ••• Santiago de Compostela

Última etapa, todo projeto tem sua última etapa... Difícil lidar emocionalmente com ela - para CAROL. Eu que sempre vivi em projetos, planejamento e execução... A pior parte é, ainda, chegar ao fim ... Vazios me chegam... Mas aos poucos estou entendendo que, como na Educação Física, a "volta Calma" é uma etapa importante... Parar, OCIAR, refletir no nada, para, assim construir o novo...

Não emendar projetos sem se permitir o OCIO PRODUTIVO...

Nisto tudo, fui trabalhando o fim da peregrinação, aceitando todas as infinitas subidas e descidas desta finalização... E, o melhor, o "gozo da chegada!"

Chegamos! Inebriadamente, chegamos! Que mar de emoções .. choro, alegria e tristeza... Gratidão... Ofertas... Fome, do que fazer agora...

Seguir, lembrando que sempre haverá SETAS no caminho... E quando não encontrá.las siga os sinais nem sempre revelados!

Desejo a todos uma Compostela!

24 de set. de 2021

1 de set. de 2021

Qualificação do Projeto de Tese no DOUTORADO


Devidamente aprovada no EXAME de QUALIFICAÇÃO no DOUTORADO no Programa de Pós-Graduação ESCOLA de Nutrição da UFBA...

[Por unanimidade e sem restrições]

Gratidão a banca e orientação:
Profa. Dra. Monica Portela UFBA
Profa. Dra. Poliana Martins UFBA
Profa. Dra. Lígia Amparo UFBA
Prof. Dr. Giovanni Aciolli UFSCAR
Prof. Dra. Luciana Castro UERJ
Prof.Dr. Ricardo Burg Ceccim UFRGS

Gratidão estendida ao meu companheiro Prof. Dr. Jean Adriano Barros da Silva  (@mestre_jean_pangolin) que queima os fusíveis junto comigo nesta caminhada doutoral.

Gratidão também aos meus pais, Celso e Dalva, que me deram régua e compasso pra chegar o de cheguei... A eles, a honra e todas as minhas vitórias!

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Em busca do Axé


Em Busca do Axé 
Por: Mestre Jean Pangolin 

O Axé, na língua iorubá, significa poder, energia ou força presentes em cada ser ou em cada coisa. Neste sentido, desejo diálogar um pouco sobre a busca do axé nas rodas de capoeira. 

Muitas vezes, como capoeira,  me sinto uma espécie de "vampiro" , que necessita da força vital emanada de uma boa capoeira para recarregar as baterias do ser cultural que habita em mim.

Sou um dependente da química do berimbau bem tocado, do encanto da cantiga, do meneio do jogo e do saber ancestral dos antigos. 

Me escondo nas vestes de um praticante, mas na verdade sou um "escravo" do bicho capoeira, aquele que nos toma por assalto e nos transforma na própria essência da arte.

O desafio é que , para nós "vampiros do axé " , é necessária uma alimentação constante , e hoje, já não é tão fácil encontrar um berimbau afinado, uma cantiga que arrepia, um jogo que tira o fôlego, nem um papo bom com um antigo Mestre no pelourinho. 

Onde nos perdemos? O que estamos buscando? A capoeira tá morrendo ou em franca metamorfose de esvaziamento da referência ancestral?

Enfim, o fato concreto é que nós, "vampiros do axé da capoeira ", estamos em extinção, pois pouco a pouco somos substituídos por uma outra versão de capoeiras , uma mais rápida, mas econômica, menos reflexiva e mais adaptada a cultura da capoeira bigMac .

Eiiiii psiu! Me ajude a sobreviver... Onde posso encontrar um bom lugar pra me encher do "AXÉ"?

Ouça Em busca do Axé de Mestra Brisa _ Carol Magalhães no #SoundCloud
https://soundcloud.app.goo.gl/tjdef

20 de ago. de 2021

ENTRE FLORES E ESPINHOS: memórias dos desacertos na vida de um capoeira

Por: Mestra Brisa e mestre Jean Pangolin

Por essas andanças na capoeira, quantas vezes fomos surpreendidas por algumas situações hilárias, se não fossem trágicas, que nos perguntaram se, de fato, éramos capazes de seguir firmes com a arte? É sobre este tema que trataremos no texto a seguir.

Há poucos dias estava eu, em meio a uma conversa divertida com familiares, contando alguns desacertos já vividos na capoeira. Contava sobre as andanças nesse mundão a fora, em workshops, turnês, visita a eventos e outras tantas atividades, enfim, vivências adquiridas na lida profissional, que nos convidam a termos, ativadas, a flexibilidade e a malícia nas relações com o outro/a, a sagacidade para não nos deixarmos prejudicar nos desencontros, e a sabedoria para seguir firmes no propósito e missão com a arte.

Certa feita, fui convidada para um evento de uma “amiga”, aqui no Brasil, que havia se comprometido a garantir passagem, hospedagem, alimentação, tendo eu liberado o cachê numa dessa trocas que a gente faz por camaradagem. Até o final do evento tudo foi honrado. Na hora de ir embora, estava na companhia de um mestre respeitado aqui na minha terra, já na porta do aeroporto, a “amiga” virou para nós dois e disse: - Sabe o que é? É que o evento não deu muito lucro e não consegui comprar a passagens de vocês. Virou as costas e foi embora, e eu tive que "descascar este pepino" para retornar a Salvador. Olhe, que se duvidar, ainda saí como errada pra ela!

Outro caso se deu quando, em um evento na América Latina, o responsável havia me deixado no aeroporto, cerca de 100 km da cidade do evento, e na hora do embarque descobri que aquele estado cobrava uma taxa extra de embarque para estrangeiros no valor simbólico de $70 dólares, 490,00 reais, imagine?! Como o trabalho ainda não tinha terminado, e eu ainda não tinha sido pago, reuni o pouco que tinha na carteira, que junto com o que os agentes da companhia aérea reuniram de "vaquinha" não cobria o valor da taxa. Resultado: Perdi o vôo, mas consegui dar um telefonema e, algumas horas depois, o responsável do evento apareceu e ajeitou as taxas, me liberando para voar para a próxima estação de trabalho... A vida é dura, mô pai!

Em outra ocasião, estava na organização de um evento e, no processo de convite dos mestres, fui surpreendida por um pedido de "cachê inusitado", pois o famoso mestre, para além do pró-labore de costume, me pediu para levar sua amante e ainda que eu custeasse hospedagem e alimentação da mesma, considerando a possibilidade de um hotel diferenciado com eles na suíte de casais... É mole ou quer mais? O mestre ainda me disse: - Não faço isso pra qualquer um, mas pra você vou abrir essa exceção, indo em seu evento e te dando um axé!!!"... É brincadeira?!

Ainda na América Latina, precisei fazer uma viagem entre dois estados de ônibus, pois o grupo possuía poucos recursos na época, não podendo custear passagens aéreas, contudo, não nos avisaram que no trajeto, na cordilheira do Andes, passaríamos por uma cidade controlada pela guerrilha (paramilitares), e que era freqüente o seqüestro de estrangeiros... Lá pelas tantas da madrugada, nosso ônibus foi abordado por vários homens armados, com roupas camufladas velhas e desgastadas, pedindo para que os homens descessem do veículo e ficassem apenas de roupas íntimas, no acostamento da estrada. Neste momento, viro para o responsável pelo evento naquele país, e pergunto: -E agora, como ficaremos? (risos) E ele responde calmamente: - Tranquilo maestro, porque no passará nada ... La guerrilla solo secuestra a ricos ... Solo somos pobres capoeiras"… E tudo seguiu bem, tirando o frio abaixo de zero e o medo por toda aquela situação.

Aqui são alguns casos que vivi... Outro dia, lá no começo de minha trajetória em capoeira, fui pra um evento no interior da Bahia, literalmente de carona no lombo de um caminhão de cimento, amarrado nas cordas pra não cair. Quando chego na praça principal da cidade, já tinha uma roda rolando. Entrei pra jogar. Aperto com um. Aperto com outro, roda difícil, aí acabei me engalfinhando com um capoeira perigoso da cidade chamado "miseravão", aperto mesmo. Quando chega a noite, e eu vou durmir no quarto coletivo, quem está durmindo na cama de baixo do beliche? "Miseravão". Rapaz, só lembrei de mestre Bimba (risos). Era um olho aberto e o outro fechado a noite toda até sair de finininho pela manhã pra casa... Vixe!!! Foi barril dobrado....

Menina, é história viu!? Olha essa... Em uma das viagens que fiz, grávida de sete meses, para fazer alguns workshops e uma exposição de 15 berimbaus que preparei representando o estado da Bahia para a embaixada do Brasil fora do país. Logo na saída, em uma conexão do avião, esqueci meu documento de identidade no balcão de check-in. Ao chegar no destino, todos os berimbaus foram extraviados e não fiz a exposição para a embaixada, juntamente com as malas, ficando dois dias sem roupas para trocar. Durante a estadia, já no segundo país da turnê, em um workshop no acampamento, roubaram minha bolsa com cartão de banco, passagens aéreas, dinheiro , e o pior de tudo, meu passaporte. Pra voltar tive que esperar 07 dias para uma autorização de retorno ao Brasil ser expedida pela embaixada brasileira. Acha que os problemas acabaram aí? Na volta para o Brasil, ao chegar, tive novamente minha bagagem extraviada. A moral da história é a Lei de "Murphy", que diz que quando tudo estiver ruim, calma, pois ainda pode piorar (risos).

Certa feita no continente africano, dois dias depois de nossa chegada ao país para pesquisar sobre o povo "macúa" e sua possível ligação com o maculêle, caímos num velho golpe nas ruas de Maputo, onde um cidadão nos abordou na rua dizendo ser o agente da imigração e ter ajudado a gente. Foi super solícito e pediu uma ajuda financeira. Nós demos, na verdade, mais por medo do que por solidariedade. Depois soubemos que ele era um golpista antigo que pega a maioria dos estrangeiros que chegam por lá. Ali faltou capoeira, mas  sobrou sobrevivência! rsrsrs...

Tem muitos casos, mas só vou contar mais um. Em uma de nossas turnês na Europa havíamos levado 70 berimbaus e um monte de outras coisas pra vender. Fizemos um "meio de campo" com um conhecido lá e ele nos convidou para uma roda aberta no subúrbio de Paris, alegando ser uma boa oportunidade para vender o material, pois estariam lá os representantes/líderes dos grupos da cidade. Assim, seguimos pra a tal roda. Logo no primeiro jogo recebi um martelo que veio com "endereço certo" para arrancar minha cabeça (risos)... Por sorte, esquivei e emendei a velha banda "in Bahia" (risos)... Daí por diante foi só problema, pois foi preciso sobreviver a roda, revezando entre a gente e eles, sem bater muito, nem apanhar, pois eles eram os potenciais compradores/clientes do "Mercado Modelo" que tínhamos levado... Resumo: Como dizia Ney Matogrosso... "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come"...  Só para matar a curiosidade de vocês.... Vendemos tudo na turnê e com a grana mobilhamos nosso apartamento em Salvador... É labuta viu...

Enfim, são inúmeros "causos" vividos, que não cabem numa única escrita, portanto, vou me despedindo, hoje sorrindo de todas estas memórias que um dia me deram um aperto. Certa de que sou fruto deste cabedal de experiências orquestradas numa trajetória de "existência na resistência". Me constituindo como pessoa respeitável por um saber construído também pelas "mãos no chão" e um "berimbau que fala", sendo conhecido e REconhecido pelas  pessoas que possuem "farinha no saco", "onde só vai quem tem negócio".

Ou seja..."Pé que não anda, não toma topada!"

Axé.:
Ei, psiu! Gostou? Então compartilha, ajuda a capoeira a refletir e avançar!

Ouça Entre flores e espinhos: Memórias dos desacertos na vida de um capoeira de Mestra Brisa _ Carol Magalhães no #SoundCloud
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4 de jul. de 2021

"MANDA QUEM PODE, OBEDECE QUEM TEM JUÍZO?": Abuso de poder, pedofilia, assédio sexual, estupro e o silenciamento naturalizado na capoeira



Por: Mestre Brisa e Mestre Jean Pangolin


Diante das avalanches de notícias tristes que estão invadindo a nossa cena da capoeira, você já percebeu que, invariavelmente, pedofilia, assédio sexual e estupro, são todas expressões ligadas ao poder, ou seja, ao abuso do poder? Trataremos neste texto sobre os desafios de relações humanas que se estabelecem na submissão de pessoas e no silenciamento naturalizado pelo "medo".

A capoeira, como grande expressão popular, nasce e se alimenta das relações humanas sob os fundamentos e valores de matriz afrodescendentes que elegem ancestralidade, memória, circularidade, oralidade, dentre outros, como faróis de nossa práxis capoeirana. Porém, enquanto humanos, somos falíveis e frutos de uma educação, seja ela formal ou informal, que estruturam nossa maneira de pensar, agir e se relacionar com outras pessoas. Neste sentido, muitos são os motivos que consolidam o poder e, sobretudo o abuso dele, em nossas relações, mas também diversos são os tipos de abuso vividos por nós desde a infância até a hora de “bater as botas”.

Como ponto de partida, precisamos entender que o abuso sexual (pedofilia, assédio sexual e estupro) se configura como qualquer relacionamento entre pessoas no qual o ato sexual aconteça sem o consentimento da outra pessoa, sendo este com ou sem violência física e/ou psicológica. Porém, pensem conosco, extrapolando as questões que envolvem a sexualidade, os atos de abuso não podem acontecer de outras maneiras no nosso dia-a-dia? Basta que submetamos alguém, sob uma relação de poder, controle e humilhação, à uma situação em que a mesma não tenha acordo, ou seja, quando o mestre diz "aqui eu mando e você obedece" ou "o grupo é meu" ou "respeite a hierarquia e se coloque no seu lugar" ou até "quem é você para me questionar?", podemos nitidamente perceber uma relação de "abuso" que poderá se ramificar em muitas outras áreas, tal como na sexualidade.

Pesquisas indicam que certos abusadores sofreram abuso sexual na fase infantil, sendo que para cada oito crianças abusadas, uma poderá vir a ser um possível abusador na idade adulta. Neste sentido, alguns pesquisadores indicam que muitos indivíduos repetem, com outras pessoas, os males que sofreram, pois bloqueiam no campo consciente as "dores" da infância, considerando a dificuldade de perceber a si mesmo, negligenciando que muitas vezes nossos traumas infantis são determinantes em nosso comportamento, criando ciclos viciosos que implicam outros na dinâmica do abuso. Quantas vezes ao conversar com capoeiristas que abusam de poder na relação com suas alunas, relataram ter vivido relações abusivas durante sua vida, porém, espantosamente, dizem que foi por isso que virou “cidadão de bem” ou “não deu pra coisa ruim”, validando e reproduzindo fielmente as relações abusivas com seus alunos, filhos e pessoas “subordinadas”? Já dizia Paulo Freire, filósofo e patrono da educação brasileira, “todo oprimido gesta dentro de si um opressor”, basta que a vida oportunize a condição de poder para que ele possa se expressar.

Michel Foucault, um filósofo francês, aponta em sua obra que ninguém escapa aos espaços de disputa de poder, desta forma, a nossa capoeira também está a mercê deste mal que assola a dinâmica relacional em nossos tempos, sendo seus desdobramentos mais nefastos expressos na sexualidade: a pedofilia, o assédio sexual, o estupro e o silenciamento naturalizado pelo "medo" e cultura das hierarquias adoecidas. Homens e mulheres abusadores usam o medo ou a “subordinação” da vítima na relação de abuso, fazendo com que a parte oprimida se sinta fraca e indefesa, garantindo ao abusador a sensação de "potência", de poder. 

Quantas vezes na relação de ensino-aprendizagem, quem está na condição de aprendiz acaba “encantado” pela seu mestre, por todo o seu conhecimento, fama ou respeitabilidade, se subordinando a qualquer proposta, sexual ou não, feitas pelo abusador, sem discernir que, do outro lado, encontra-se um ser humano em franco desequilíbrio, que não sabe gerir seu poder com cuidado e sabedoria, subordinando-se a um jogo de difícil libertação.  Ou o inverso, quando a mestra antiga se “encanta” com a “intelectualidade predatória” de alunos que abusam deste lugar, manipulando o saber dos antigos em favor de seus interesses privados imorais. Nesse quadro estão crianças e adolescentes entregues à confiança de capoeiristas, com suas ingenuidades e total credibilidade nos seus responsáveis provisórios; jovens entregues às propostas de trabalho ofertadas por mestres(as) em troca de relações sexuais; jovens e adultos submissos a agressões físicas e psicológicas das mestras(es) enquanto durar a longa relação dentro do grupo de capoeira; mestres(as) antigos(as) manipulados por alunos “influentes” intelectual, financeira e politicamente; enfim, cada um aqui pode contar um exemplo diferente de abuso de poder que viu na capoeira. Viu e não contou! Ora por não ter provas, ora por achar NATURAL.

Por fim, desejamos falar das proposições de lida contra o abuso de poder na capoeira, em forma de recados... 

1. Aos responsáveis por crianças e adolescentes: vocês conversam com seus filhos/as sobre o que é que pedofilia, assédio sexual e estupro? Conversaram sobre o que pode ser interpretado como “sinal de alerta” na relação humana – toques íntimos, investidas sexuais, exploração de trabalho, relação abusiva...?

2. Aos responsáveis por crianças e adolescentes: Já se perguntaram se vocês cuidam de não “depositarem” seus menores na academia? Se vocês “entregam” seus tesouros aos cuidados do professor de capoeira, depois de ter conhecido sua história, índole, antecedentes criminais, didática...? Já assistiu algumas aulas? Conhecem como ele/a trata os alunos/as? 

3. Todos os capoeiristas: Vocês sabem que, como ensina a nossa matriz afrodescendente, as relações de respeito devem acontecer em “via de mão dupla”? Que tanto devemos respeito aos mais antigos, quanto devemos ser respeitados enquanto mais novos em nossas idéias, integridade física, processo de aprendizagem? E que é nesse respeito mútuo que a cultura da capoeira se perpetuará em harmonia, pois sem mais novos respeitados, não haverá mais velhos sábios?

4. Para quem se identifica enquanto abusador: Você sabe que seus motivos podem estar em como foi tratado na infância, ou em casa, ou no trabalho? Você sabe que pode pedir ajuda e sair deste quadro cíclico adoecedor, que subjuga pessoas inocentes e impotentes? Você sabe que isso é crime tipificado na justiça brasileira e que seus filhos podem ser vítimas de outros abusadores como você? 

5. As vítimas silenciadas: Já conversou com alguém de sua confiança sobre o que está acontecendo? Tentem reunir provas, conversas em redes sociais, fotos, enfim se oportunize sair deste lugar!
6. A sociedade que naturaliza o abuso de poder: Vamos aprender mais com a capoeira? As relações saudáveis são aquelas que preservam o lugar de cada um, com integridade, liberdade, direito de voz e voto. Submissão só se instala onde não temos garantidos estes fundamentos. Natural deve ser o cuidado ao próximo, o “jogar com”, não contra. Gritar, bater, estuprar, submeter não reflete nada do que defendemos em capoeira, portanto, desconfie do óbvio que diz que “Manda quem pode, obedece quem tem juízo?”

Axé!

Ei, psiu, gostou? Então compartilhe, ajude a capoeira a refletir sua prática...

30 de jun. de 2021

Capoeira com a UFPE realiza live amanhã (1º) sobre o tema Fundamentos da roda de capoeira

O projeto “Capoeira com a UFPE: gingados transformadores ao ritmo de epistemologias críticas” realiza live amanhã (1º), às 21h30. A transmissão traz o tema “Fundamentos da roda de capoeira” e contará com a participação da mestra Brisa, docente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A live será exibida pelo Facebook do projeto e pelo canal do coordenador, o professor Henrique Kohl, no YouTube.

O “Capoeira com a UFPE” é destinado para as pessoas que querem aprender capoeira. Desde o ano de 2020, em decorrência da Covid-19, mantém oferta regular, síncrona, digital e remota via Google Meet ou StreamYard com aulas abertas e gratuitas de capoeira. Desde 2000, o projeto materializa ações-reflexões-novas ações extensionistas via as seguintes modalidades: prestação de serviços (aulas regulares semanais) e eventos (encontros internacionais, vivências, seminários, oficinas, apresentações e palestras).

Mais informações
Instagram
 @capoeira_com_a_ufpe 
profhenriquekohl@hotmail.com 

Acesse a matéria completa:

https://www.ufpe.br/agencia/noticias/-/asset_publisher/dlhi8nsrz4hK/content/capoeira-com-a-ufpe-realiza-live-amanha-1-sobre-o-tema-fundamentos-da-roda-de-capoeira/40615

Quer assistir a Live inteirinha? Clique neste link https://www.youtube.com/watch?v=JmPq_K6Pb6w

30 de mai. de 2021

Live "Tiro o Chapéu" com mestre Ediandro


✍🏿 Africa ConVidou... E foi uma maravilhosa live!

👉🏿 Mestra Janja, Mestra Tisza, Mestra Brisa, C.Mestra Luana numa roda de conversa onde a CAPOEIRA nas  suas diversas possibilidades mostrar de forma engrandecedora grandes reflexões de diferentes olhares.

✅ A Live foi neste domingo 30/05/2021 ás: 20:00 🇪🇸 15:00 🇧🇷 

TRANSMITIDA NO FACEBOOK E YOUTUBE
👉🏿 Facebook: https://www.facebook.com/ediandroalmeida/
👉🏿 Youtube: https://www.youtube.com/c/CapoeiraBanzodeSenzala 

🍀 Grande oportunidade de conhecerem nossas convicções sobre a capoeira...

Confiram neste link:

https://youtu.be/CeXMx5ZMHvY

28 de mai. de 2021

Live com o mestre Ediandro, mestras e capoeiras de valor!!!


✍🏿 Africa ConVida

👉🏿 Mestra Janja, Mestra Tisza, Mestra Brisa, C.Mestra Luana, Prof. Mônica Beltrão...

... para uma roda de conversa onde a CAPOEIRA nas  suas diversas possibilidades mostrar de forma engrandecedora grandes reflexões de diferentes olhares.

✅ A Live será o próximo domingo 30/05/2021 ás: 20:00 🇪🇸 15:00 🇧🇷 
TRANSMITIREMOS POR FACEBOOK E YOUTUBE

👉🏿 Facebook: https://www.facebook.com/ediandroalmeida/
👉🏿 Youtube: https://www.youtube.com/c/CapoeiraBanzodeSenzala 

🍀 Grande oportunidade

✅ Te esperamos

Mestre Ediandro De Almeida Banzo

17 de mai. de 2021

Live na Identidade do Capoeira... 20.05.. 20h


Vamos discutir assuntos polêmicos na capoeira... 

A) fake news;
B) vaidade;
C) política e politicagem;
D) Capoeira e religião; 

Vamos ? Não percam!

10 de mai. de 2021

Live em junho com o mestre Adelmo...



Dia 04 de junho de 2021, as 19h!
Não percam...


20 de abr. de 2021

Live sobre Partido Brasileiro da Capoeira (PBC) - Facebook naIdentidadedoCapoeira



Ontem, 19/04/2021, às 20h,  tivemos a 3ª Live aberta à todas as pessoas interessadas em saber e/ou se juntar na formação do Partido Brasileiro da Capoeira. 

Estavam presentes além dos apresentadores/mediadores Mestre Dungha e Contramestre Fly, os mestres Itapoan, Piauí, Bamba, Jean Pangolin, Reinaldinho e Morgado. 

Fui convidada para representar o seguimento Feminino nesta luta. 
Vamos Juntas?!!!!

Quem quiser assistir pode clicar neste link https://fb.watch/4ZNJkYalmX/ ... 
Live do Partido Brasileiro da Capoeira!

 

16 de abr. de 2021

ESPELHO, ESPELHO MEU, EXISTE ALGUÉM MAIS IMPORTANTE DO QUE EU?: pensando no capoeira Narciso


Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin

Você já conheceu algum/a capoeira que só pensa em si? Que na roda, geralmente, se acha o rei do pedaço, sendo sempre o mais importante? Que não consegue admirar eventos de outras pessoas, pois os seus são sempre os melhores!? Que só se atrai por projetos que alimentem a sua vaidade? " Pois é! Neste texto trataremos do "Capoeira Narciso".

O capoeira vaidoso assume todas as características do narcisista? Mas o que é isso? Conta-se, lá na Grécia, que Narciso era um homem muito belo, que por ser esnobe, acabou recebendo uma maldição, na qual só poderia se apaixonar por alguém que o desprezasse. Advinha por quem ele se apaixonou? Pela sua imagem refletida na água! Por não ser correspondido, acabou definhando e, ao mergulhar para possuir o ser alvo de sua paixão - o seu reflexo, acabou morrendo. 

Narcisismo é um termo que refere-se a vinculação de uma pessoa a si mesma, ou seja, é aquele individuo que possui um interesse exagerado e doentio em suas próprias questões, necessitando da aceitação e aplausos dos outros, pois seu inconsciente esta repleto de registros infantis negativos da sua invisibilidade cultural e, conseqüente vazio existencial, portanto, existe uma "ordem" ao consciente para que sempre busque fora a deferência alheia, no sentido de neutralizar a ansiedade neurótica latente dos registros de "criança ferida". 

O Capoeira vaidoso se imagina "imortal" e superior aos demais indivíduos, não admitindo absolutamente nada que esteja fora do âmbito de seu interesse particular. Muitas vezes, quando algo ou alguém atenta contra seu "espaço de poder", sua frustração se amplia, demasiadamente, evidenciando um estado agressivo em seu comportamento contra tudo e todos. A raiva e o rancor tomam conta, como uma resposta consciente da demanda de proteção gerada pelo inconsciente, denunciando uma grande fragilidade emocional.

Quantas vezes vemos o/a capoeira que por vaidade, deixam de produzir algo de bom para todo o coletivo, pois não achou que a proposta lhe projetasse enquanto indivíduo? Quantas vezes vemos brigas de capoeiristas, por que simplesmente, sua ideia não "venceu" numa determinada discussão? Quantas vezes vimos rodas maravilhosas acabarem por conta de um/uma capoeirista, que chega e acha que só quem deve jogar é ele/ela, tirando o direito de todo o resto? Quantos grupos se dissolveram pela incapacidade de um dos integrantes de recuar? Quantos mestres/as não passaram anos sem se falar por conta de vaidade? Quanto desperdício da potência coletiva...

Para enfraquecer o Narciso que há em nós, basta lembrar da filosofia que nasce dentro da roda de capoeira, na qual sendo organizada por uma bateria de instrumentos, possui três berimbaus - Gunga, médio e viola, no qual independente do Gunga ser considerado quem vai dar o tom, dizendo qual ritmo e tipo de jogo, não vive sem seu conjunto que o acompanha e estrutura todo a energia vital da roda!

Portando lembre o ditado que diz que "nenhum de nós é tão bom, quanto todos nós juntos"! 

Axé!

Ei, psiu!? Gostou? Então compartilhe! Ajude a capoeira a refletir!

Ouça Texto 16_ ESPELHO, ESPELHO MEU, EXISTE ALGUÉM MAIS IMPORTANTE DO QUE EU? de Mestra Brisa _ Carol Magalhães no #SoundCloud
https://soundcloud.com/mestra-brisa-carolina-magalhaes/texto-16-o-capoeira-narciso-1/s-dlZDuHlsxsc?ref=clipboard&p=a&c=1&utm_source=clipboard&utm_medium=text&utm_campaign=social_sharing

11 de abr. de 2021

JuntAS rumo a fundação do PBC...

Entrevista com a Mestra Brisa (canal YouTube Gritomarcial)


Longa e satisfatória papoeira com o canal Grito Marcial no YouTube ...

Assistam e deixem seu comentário.

Acesse pelo link https://youtu.be/Fb0WcYkAa9Q


O movimento feminista na capoeira l Canal gritomarcial (Instagram)



O movimento feminista na capoeira l Canal gritomarcial (Instagram)

Uma conversa franca com o Contramestre Cavalo no canal do Instagram sobre o que a mestra Brisa acha sobre Movimento feminista na Capoeira.

Para assistir acesse o link https://youtu.be/fIelQ0xIRzg

Qual sua opinião? Deixe nos comentários...

21 de mar. de 2021

A política e a politicagem na capoeira: duas faces da mesma moeda


Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin
 
 
Sabe aquela descrença que nos abateu entorno da "política", sobretudo quando nosso país nos dá tantos indícios de que o que vem da "política" não presta, é sempre vinculado a roubos, desvio de verba pública e etc? Ainda mais quando aproximam a política da capoeira, aí é que eu engasgava e dizia... - Não quero saber disso aqui, não! Então... Compartilhamos da mesma sensação, porém com o tempo e a aproximação com os conceitos, pude perceber que estava a misturar duas coisas diferentes... Disso que trataremos no texto a seguir...
 
Iniciarei tratando do que é política, do ponto de vista conceitual... Segundo o dicionário Michaelis, política vem do grego πολιτικός / politikos, significa a "arte ou ciência de governar", algo que tem a ver com a organização, direção e administração de nações ou Estados. Nos regimes democráticos, a ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos com seu voto ou com sua militância. Neste sentido, política se aproxima do ato de organizar, dirigir, administrar algo. Trazendo pra capoeira, seria como o papel do mestre diante de seu grupo de alunos, sua roda, fazendo a gestão deste "organismo vivo" que são os capoeiras no entorno da capoeira.
 
Ora! Se pensarmos no nosso país como uma grande roda, poderíamos entender que a política estaria concentrada nas mãos da/o nossa/o mais antiga/o - a mestra, pela experiência reconhecida publicamente, em mãos dadas aos seus alunos mais antigos (contramestres/as, professores/as, formados/as, treinéis...) na complexa lida com o conjunto de praticantes. Este seria o desenho que representaria a política em nossa arte.
 
Um elemento importante está por trás desta cena que, tal como na sociedade, nos preocupa. Quais os objetivos que mediam a ação desta mestra ou mestre, gestor desta cena onde a política atua - a RODA? Seria congregar? Seria o bem comum? Seria a formação dos capoeiras para a construção de uma visão crítica e emancipatória ao seu redor? Seria então para ter um "clã" sobre seu domínio e abuso de poder? Seria para adquirir em favor de benefício próprio, esquecendo de REPRESENTAR caminhos de prosperidade para seu coletivo?
 
Boas e intrigantes perguntas. Me fizeram começar a refletir e compreender mais sobre a "política", sua missão e como ela deve ser gerida, e como ela também pode ser desviada, a depender dos objetivos de quem a conduz, servindo a diferentes propósitos que não representem um coletivo.
 
Ou seja, quando alguém têm a oportunidade de representar um conjunto de indivíduos, suas idéias, suas necessidades, bem como gerenciar os negócios públicos, jamais pode monopolizar o “fazer” da política, este “Fazer” deve ficar a cargo, ou subordinado aos interesses de todos os integrantes do coletivo, da comunidade, do município, da unidade e do Estado.
 
Assim comecei a entender que política é responsabilidade de todas as pessoas representadas, pois serve a todas elas! Assim comecei a entender também que não era a "política que não prestava", como disse no começo deste texto, e sim, a POLITICAGEM.

Ainda segundo o dicionário Michaelis, Politicagem, termo pejorativo, significa a "Política de baixo nível, voltada para os interesses pessoais, de troca de favores, ou de realizações insignificantes". Seria como em uma roda, nosso representante máximo - o/a mestre/a, beneficiar um aluno em detrimento de outros por troca de favores - financeiros, logísticos, afetivos, etc; ou utilizar-se do grupo de alunos para conseguir benefícios particulares, esquecendo de que estes benefícios devem servir ao coletivo; ou por último, algum aluno mais velho, ou mais influente, que passe a gerenciar os interesses de um antigo mestre - por sua idade avançada, e passar a se beneficiar deste lugar em benefício próprio.... enfim, cabe a tantas situações infelizmente, que nem consigo enumerá-las.
 
Nesta mesma linha da politicagem, invariavelmente, temos escutado que os "fins justificam os meios", ou seja, seria legítimo "manipular" o resultado de um edital publico para a capoeira, em favor de "A" ou "B", sob a premissa de que este ou aquele "precisa mais".... Perdão, mas um ERRO não justifica outro. Algo muito atual semelhante acontece quando escuto alguém falar que "precisamos decidir pelos antigos mestres", pois estes não possuem consciência critica política... Lamentável!! Enfim, cabe aqui a reflexão de que quando burlamos as estruturas de encaminhamentos da política, abrimos um precedente que, invariavelmente, poderemos ser vítimas em um futuro próximo, pois, "pau que dá em Chico, dá em Francisco".
 
Escutei um sujeito falar que "em um sistema injusto era legítimo usar todas as armas para beneficiar uma dada causa", isso tudo foi feito, a partir um discurso "inflamado" e "rancoroso", transformando a "roda de capoeira" em uma espécie de veículo para recrutamento de novos soldados ideológicos para a causa defendida pelo autor da fala, contudo, após o discurso eloqüente, quando a capoeira foi iniciada no "chão da roda", não percebi a "militância" emergindo/fluindo do berimbau bem tocado, do jogo cadenciada e/ou da cantiga entoada com o conteúdo crítico da emancipação humana. Assim, percebi que para eficácia da POLITICA na capoeira precisamos "vesti-la" da ritualística ancestral que compõe a dinâmica cultural, pois fora disso, só teremos a velha politicagem travestida falsamente de política boazinha.
 
O capoeira politizado não pode se estruturar fora do POLITICO "CAPOEIRIZADO", aquele que faz o berimbau "gritar" por dias melhores, aquele que seu jogo é a materialização de uma mobilidade subversiva, aquele que seu canto faz pensar para além das denúncias óbvias, trazendo para si e para os outros, o embrião de um mundo mais justo e emancipado, considerando uma lida cotidiana em que "fazemos aprendendo" e "aprendemos fazendo".

Tocando uma cavalaria, em alerta máximo, conclamo a todos revisitarem seu conceito de política, ampliando-o, para que possamos assim, vestir nossa indumentária e seguir fazendo política na capoeira, não politicagem! Participem! Elejam com consciência quem será seu representante! E se você é capoeira, se possível, seja representado por um capoeira, legítimo, reconhecido, de boa índole e de boa fé!

Axé!

Ei, psiu, gostou? Então compartilhe, ajude a capoeira a refletir!

Ouça o áudio no link https://soundcloud.com/mestra-brisa-carolina-magalhaes/texto-15_a-politica-e-a

6 de mar. de 2021

Live em comemoração dos 35 anos de Capoeira em Lages, Santa Catarina...

Homenagem da Academia Clips de Capoeira ao dia Internacional da Mulher!


É com grande felicidade que recebo a homenagem da Academia Clips de Capoeira em Amargosa, pelas iniciativa do mestre Gilson, ao dia Internacional da Mulher!

Momentos como estes, lembramos o tamanho do caminho percorrido, sem esquecer que a condição de aprendiz deve continuar nos conduzindo!

Axé!

5 de mar. de 2021

Live da GUETO Capoeira_ Os desafios do século XXI e as contribuições da Capoeira

Foi muito produtiva... Falamos de Capoeira como educação, na pandemia, nas questões de gênero, como filosofia de vida... Muito rica, vale a pena assistir!

Assista a live no YouTube clicando neste link: https://www.youtube.com/watch?v=y_tlSYPiWjk

1 de mar. de 2021

O "CAPOEIRA 100%": potencialidades e desafios de uma vida de dedicação exclusiva...

Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin

Hoje em dia escuto muita gente falando sobre ter que ser "capoeira 100%"... Observem, até eu já falei muitas vezes isso, querendo fazer a defesa de que o capoeirista deve dar exclusividade a capoeira, conectando todos os campos da sua vida à esta arte. Porém, hoje me pergunto quais os desafios e potencialidades desta escolha? Trataremos neste texto sobre estas inquietações que, com certeza, são perguntas que nos fazemos ao longo da vida.

Na vida, muito do que desejamos depende de alguns fatores e competências para ser erguido, materializado... Entrega, planejamento, disciplina, "terreno fértil", são alguns elementos que reunidos alicerçam o progresso humano em qualquer área da vida. Com a capoeira não seria diferente. Para se estruturar uma vida próspera na capoeira, seja ela profissional, técnica e/ou filosoficamente, é preciso dedicar-se a compreendê-la, apreendendo seus conceitos, fundamentos, rituais, bem como suas relações com os diversos campos da vida humana (ciências sociais, humanas, saúde, exatas e suas aplicações). 

Neste caminho, o capoeira que tem este desejo, passa a estabelecer uma busca de "ver, sentir, apreciar" a capoeira em tudo ao seu redor. Passa a correlacioná-la, por exemplo: - em sua vida profissional e financeira: ministrando aulas, cursos e palestras, produzindo e fazendo shows, confeccionando e vendendo instrumentos,  administrando associações/centros de treinamento, escrevendo livros, realizando eventos, produzindo canais de informações na internet...; - em sua vida afetiva e familiar: se relacionando com um outro(a) capoeira ou envolvendo seu/sua companheiro(a) na lida com esta arte, relacionando o cotidiano familiar com a capoeira, tendo filhos/as capoeiristas...;  - em seus momentos de lazer, de estudo, de religiosidade... Tudo passa a girar em torno da capoeira... 

Quanta riqueza de relações estabelecidas, hein?!! Uma teia de entrelaçamentos que nos fortalece enquanto capoeiras, importante, sobretudo, quando vivemos em uma sociedade que ainda não valoriza nossa capoeira, sem reconhecer seu alto poder educativo, inclusivo, socializador e emancipatório. Porém, é preciso refletir sobre um outro lado...

Nesta defesa do "capoeira 100%", acima desenhado, sempre me intrigou a crítica/auto-crítica ferrenha feita ao "capoeira vivido", que sempre experimentou outras experiências fora da capoeira, ambientes outros que carregavam tamanha riqueza dentro da formação humana no campo das artes, cultura, turismo, relações humanas, psicologia, tais como: ir ao teatro, à shows, visitar diferentes lugares como paraísos tropicais, cidades históricas, conhecer culturas diferentes, cozinhar e comer comidas saborosas em lugares especiais, educar e curtir os filhos em espaços de lazer/estudo/ócio, dialogar com outras culturas populares, fazer um esporte diferente ou terapias alternativas, dançar, olhar o mundo por uma outra ótica que não a apresentada pela cultura da capoeira. Tudo isso também é enriquecedor, inclusive aporta ao cotidiano de um capoeirista, a maturidade para reconhecer a riqueza da capoeira e da vida. 

Tenho visto muitos críticos que dizem: -Ela/ele não é "100% capoeira", mas o que de fato seria bom pro capoeira e para a arte capoeira? 

Lembremos que, mesmo focando a discussão presente no âmbito da arte capoeira, não podemos ser ingênuos de pensar que a resposta está, exclusivamente, na capoeiragem em si, visto que qualquer prática humana sofre a influência de seu tempo histórico e seus desafios de leitura da realidade. Neste sentido, é necessário refletir que a lógica de conhecimento multifacetado e centralizado na capacidade humana é um reflexo do pensamento renascentista em contraponto a Idade Média, que tinha Deus como centro de todas as coisas, ou seja, o que apresentamos aqui não é um conflito existencial novo, nem tão pouco exclusivo da comunidade de capoeira. 

Na perspectiva renascentista o formato de ser humano perfeito era aquele que conhecia todas as artes e todas as ciências, ou seja, multifacetado. Leonardo da Vinci foi o grande exemplo deste ideal, pois dominava várias ciências e artes plásticas, não estando vinculado, especificamente, a uma só área de conhecimento. Assim, fica fácil perceber que nossas inquietações sobre os defensores da "exclusividade" em capoeira, em linhas gerais e de forma análoga, pode representar um retorno ao pensamento restritivo e castrador da idade média.

O capoeira antes de tudo é um ser humano, ser social, quanto mais souber, mais aplicará com maestria em nossa arte, portanto convido aqui a pensarmos que extremos são perigosos, e anunciam inseguranças. Quem sabe o "capoeira 100%"  no sentido da dedicação exclusiva, não perca neste foco único e fechado, tantas compreensões análogas que enriquecem sua lida cotidiana? Passa a ser limitado, rígido, por não conhecer outras leituras, linguagens... A maioria dos momentos que vivi na vida, me aportaram a variedade de olhares que trouxe para interpretar a minha capoeira, enfim... Não é "traição" - conforme falam, o capoeira experimentar outras "cenas"...  "Traição" talvez seja manter-se alijado de experiências múltiplas vividas, ofertando à capoeira um pensamento sempre atrasado e monolítico de interpretação das coisas e das pessoas, na dinâmica das relações humanas em comunidade.

Finalizo afirmando que a postura mais "arriscosa" para a capoeira, talvez não esteja nem no "capoeira vivido", nem no "capoeira 100%", esteja mesmo no "capoeira baratino", descompromissado, aquele que vive de tudo menos a capoeira com a profundidade necessária, mas, mesmo assim tenta a todo custo reinvidicar as benesses do reconhecimento público capoeirano sem ter "farinha no saco"... 

Enfim... SE LIGUE!!!!! Na real, como falamos no início do texto, meu camarada "na vida só quem planta, colhe!", pois "a pedra de tropeço é o impulso para o avanço!", ou seja, sem as experiências da VIDA, sua capoeira MORRE!

Ei, psiu! Gostou? Então compartilha, pra que nossa capoeira possa refletir ...

https://portalcapoeira.com/capoeira/o-capoeira-100/

Ouça Texto 14_ CAPOEIRA 100% no #SoundCloud
https://soundcloud.app.goo.gl/XF4zL

19 de fev. de 2021

Assista nossa live (Dedode prosa com m. Boa Gente) na íntegra!

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10225061097256101&id=1278195063


Para quem não assistiu, vale a pena ver de novo!

Minha história, meus pensamentos, minhas crenças,Capoeira da Bahia, nossos antigos, meu cantar!

Será um honra que possas dividir comigo a minha história!

18 de fev. de 2021

12 de fev. de 2021

Juntos na Presidência e secretaria da World Capoeira Federation . WCF


Só o trabalho traz o reconhecimento...

Aprendi esta lição nos duros e longos anos de dedicação a nossa nobre e subversiva arte CAPOEIRA!

A Bahia, minha inspiração e missão na zeladoria de nossos Fundamentos!

O CAPOEIRA "BUNDA DE CARURU"


 O CAPOEIRA "BUNDA DE CARURU"

Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin



O caruru é uma comida típica daqui da Bahia, prato tradicional da festa de São Cosme e Damião e do orixá Iansã, de origem africana, possui uma consistência meio pastosa/mole, pela presença da "baba do quiabo" e outros ingredientes, e por isso, nas ruas sempre que se quer fazer referência a alguém medroso, excessivamente cuidadoso, mole para com as coisas da vida, dizemos....."bunda de caruru". Neste sentido, trataremos aqui sobre os capoeiras que não se permitem a "entrega" no jogo, aqueles que por temor ao desconhecido no desenrolar da roda, sentem uma ansiedade tão grande que não conseguem viver a experiência de vida com plenitude. 


A roda de capoeira muitas vezes funciona como uma "microcena" da vida, ou seja, as experiências da dinâmica do jogo na arte servem como fonte de saber para a lida com as situações do cotidiano. Assim, invariavelmente, estamos sempre rodeados de pessoas com comportamentos diferentes, sendo estes sempre fruto da história individual de cada ser, na relação com o outro e consigo mesmo. 


Também podemos ver a roda como um grande organismo social único, vivo e potente, mesmo considerando um cenário de diversas individualidades com limites e potencialidades, ou até com os dois juntos - o que pra mim seria o ideal, mas esta escolha depende muito de como cada capoeira vê a vida, focando numa perspectiva mais ampla, ou de forma mais seguimentada.

A partir de suas histórias individuais, as pessoas podem desenvolver ansiedades e/ou temores em virtude das experiências que tiveram acesso. Por exemplo, uma família superprotetora pode exceder em cuidados, privando seus membros de experiências que desenvolvam a autosegurança, gerando indivíduos inseguros que só aprenderam a temer os desafios do mundo. Desta forma, muitas vezes, essas inseguranças podem vir travestidas por relações de dependência dos pais, amigos e/ou namorada/o, gerando uma ansiedade frente a todas as situações em que são convocados pela vida a se posicionarem, ou seja, sempre que a pessoa está em um contexto em que não possui referências de enfrentamento, a fragilidade na lida com o poder se manifestará pela condição de inferioridade, indicando que o individuo “não é bom o suficiente” ou “não conseguirá sozinho” enfrentar a adversidade posta, criando, na maioria das vezes uma resposta de fuga e/ou vitimização, tendo a ansiedade como símbolo maior de despreparo para a vida.


Na capoeira vemos situações assim pra todo lado. Quantas vezes ao se deparar com uma roda mais forte, onde como se diz aqui na Bahia "só vai quem tem negócio", observamoss o/a capoeira esquecer de todo o conhecimento adquirido na lida com o ritual da roda, toda a bagagem experimentada nos anos de experiência, se colocando frente a roda como alguém impotente e incapaz? Não vou longe, não! Isso acontece também diante de um novo desafio de trabalho em capoeira numa área nova, seja ela de ensino, de show, de fabricação de instrumento ..., no qual a primeira resposta frente ao convite é "NÃO", muitas vezes em virtude da insegurança do NOVO. Ou no aprendizado de um movimento novo, no qual o indivíduo já anuncia internamente que é impossível de aprendê-lo, se colocando como incapaz. 

Muitas destas sensações de impotência podem nascer de fato por uma incompetência real, mas tratamos aqui do recuo imediato sem a mínima tentativa ou fundamento de ser, sem o mínimo estudo prévio sobre as reais chances de vencer tais demandas... Pois é... Muito disso, possivelmente, nasce de uma educação superprotetora, com abordagem cerceadora, que não estimula a autonomia e a autosuperação.


Para Carl Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica, o medo e a ansiedade se manifestam como uma defesa a um risco em potencial ao Ego (significa a consciência, o “eu de cada um”, ou seja, a personalidade de cada indivíduo). O referido risco pode ser externo e objetivo, como algo relacionado a uma decisão de comprar financiado uma sede própria para treinamento, ou uma ameaça interna e subjetiva de capoeira por pensamentos negativos obsessivos, como, por exemplo, a impotência para um jogo mais complexo. Assim, em alguma medida, todos nós precisamos refletir sobre nossas decisões, mas isso não deve nos paralisar por medo, nem tão pouco gerar ansiedade.


Quantas vezes observamos jogos de capoeira tensos que não se desenvolvem, pois existe uma ansiedade de ambos os jogadores no que está "por vir", ou um deles não se permite "sair deste lugar de medo", não deixando o jogo fluir com leveza e naturalidade, simplesmente por temer ser "pego" pelo parceiro na roda. Na grande maioria das vezes, as pessoas tentam conviver com a ansiedade dos desdobramentos da vida, vivendo uma apreensão constante, buscando antecipar tudo, se prevenindo contra todas as possibilidades tangíveis de um futuro "negativo", ou imersos em inseguranças e dúvidas paralisantes, sempre na esperança de que alguém resolverá o problema delas, por uma dependência nociva de outras pessoas.


De um jeito ou de outro, a ansiedade nos projeta para um futuro que ainda não aconteceu, e pior, que pode não acontecer nunca, nos privando de - no PRESENTE - viver experiências maravilhosas em capoeira, sempre por estar "com o freio de mão puxado". Claro que dentro desta ENTREGA proposta, há riscos de viver jogos difíceis nos quais levaremos perdas para analisar, a posteriori, as falhas de nosso jogo, ou nos desafios das relações/diálogos no jogo .


Enfim, a moral da história é que primeiro, as nossas limitações e sucessos como ser humano, carregam muito do que vivemos nas relações com nossos responsáveis lá na infância. Segundo é que, mesmo sendo fruto do que a infância pôde nos contribuir, ainda estamos "vivos" para analisar e mudar e, neste sentido, a capoeira é um grande celeiro promotor de experiências para estudo e mudança de nossa psiquê! O convite aqui é para seguir em movimento para que possamos ser, SEMPRE, a melhor versão de nós mesmos.


Então...Vamos lá.... Sigamos o ditado que diz "Quem tem medo de cagar, não come"....

Axé!

Ouça Texto13_O Capoeira "bunda de caruru" de Mestra Brisa _ Carol Magalhães no #SoundCloud

https://soundcloud.app.goo.gl/EUAqx

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CAPOEIRA SOFISTICADA do SÉC. XXI: entre a potência da felicidade e a felicidade da potência


Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin


Você já parou pra pensar um pouco nos infinitos jogos que fez, ou vistes fazerem, onde a sua preocupação, ou a do(a) outro(a), estava mais no *olhar do espectador da roda, do que "efetivamente" na conexão com o (a) parceiro(a)?* Já percebeu que as vezes a gente fica mais preocupado com a beleza do movimento, do que com sua eficiência no jogo? Neste texto falaremos um pouco desta "sofisticação", que nem sempre está *a serviço do objetivo central do jogo - o diálogo*. Vamos lá?! 


Buscando algo que pudesse fazer analogia com esta temática, fomos beber na fonte do termo *"sofisticação sexual"*, que está cunhado na obra de Alexander Lowen - discípulo de Wilhelm Reich, em seu livro "Amor e Orgasmo", e este define que, em contraponto à um passado de proibições e restrições das questões relativas a sexualidade (seja na infância e adolescência, seja nas civilizações que nunca preparavam-nos para mergulhar neste universo como tabú), atualmente vivemos uma fase em que é preciso fazer sexo o tempo inteiro, gostando disso sobre todas as coisas, explorando todas as variações de parceiros e de técnicas sem a mínima implicação afetiva e cuidado consigo, sendo todos aqueles que escapam desta nova faceta, considerados sexualmente problemáticos ou fora do tempo.


Nesta nova forma de vida, o desempenho performático é mais importante do que a experiência em si, pois os sentimentos cedem lugar a uma necessidade exagerada de impressionar a outra pessoa, sendo o ato sexual uma grande encenação e não a manifestação de sentimentos pelo parceiro. Neste sentido, para Lowen, este comportamento é uma camuflagem que oculta a imaturidade, os conflitos e as ansiedades sexuais provocadas pela neurose da vida em sociedade.


Para Reich, a lógica do patriarcado, a sociedade de consumo, as restrições da sexualidade nas crianças e nos jovens, por uma "moral" castradora, tem desenvolvido neuroses nos adultos que são desdobradas em problemas por exemplo como a ejaculação precoce para homens ou dificuldade de ereção, sendo estas expressões da "sofisticação sexual" que nos acomete, pois a necessidade de impressionar o outro determina uma busca desenfreada pela performance esvaziada de implicações ritualísticas com tudo que se faz, sendo este mesmo comportamento ocasionado por ansiedades, medos, culpas e frustrações que impedem a plena realização orgástica/felicidade. 


Pense conosco... Quando observamos as *rodas de capoeira na atualidade* seria possível perceber uma analogia perfeita com a *"ejaculação precoce"*, pois os jogos duram uma fração de segundos (com suas exceções), e estão investidos de uma grande dose performática, são tensos, e, na maioria dos casos, representam a expressão neurótica do século XXI, pois são protagonizados por pessoas que, em comparação ao ato sexual, estão mais preocupadas em *chamar a atenção (vaidade) do que com a experiência ritualística* daquilo que o berimbau determina no contexto do jogo, do que um "diálogo que permita a conexão, ou uma conexão que permita o diálogo".


Estes *traços neuróticos*, que estão em mim, em ti, ali, são fruto desta nossa sociedade, infectada pelo moralismo castrador que gera uma busca desenfreada por compensações, desenvolvendo uma autoconfiança artificial e afetada, gerando uma necessidade extrema de demonstração de uma *"potência fake"*, tudo isso para diminuir a infelicidade inconsciente pela impotência orgástica (assumamos aqui a potência orgástica como a incapacidade de acessar a felicidade segundo Reich). 


Ou seja, a impossibilidade de desfrutar um *bom jogo de capoeira* - com perdas, ganhos e muita sintonia, pelo medo ou ansiedade na exposição e na possibilidade de demonstrar minha fragilidade daquele minuto, dificulta uma experiência no tempo necessário de amadurecimento da dinâmica ritualística, ocasionando uma eterna frustração que faz com que eu, você ou o(a) outro(a), todos capoeiras "adoecidos", tenhamos que comprar sucessivas vezes o jogo numa tentativa de sanar o vazio interior por sua *"incapacidade" de se conectar com o contexto* para além de si mesmo.


Para nós, salvo melhor juízo, a *busca por alternativas ao problema* dos jogos de capoeira de poucos segundos e as compras desenfreadas está em dois fatores principais, sendo o primeiro deles o reconhecimento de que a capoeira, não sendo uma *ilha social*, não funciona "isolada" das mazelas psicológicas que afligem os seres humanos no mundo "civilizado", logo, a solução precisa ser conjuntural. 


Este primeiro fator nos conduz a segunda estratégia que é focada na especificidade da capoeira e seus praticantes, ou seja, educando os mestres para uma *referência ancestral iniciática* que respeite o tempo de amadurecimento ritualístico da arte e referende o "sentir" em detrimento de uma performance esvaziada e artificial, estaremos preservando grandes valores ancestrais que de fato edificam uma prática de capoeira mais genuína. 


Concorda? "Sem"corda? Faça uma breve pesquisa e veja a *"capoeira das antigas"*, passei pelo jogos filmados das primeiras décadas deste século. Onde estava a intencionalidade dos capoeiras? Na câmera que o filmava? Na plasticidade do movimento? Ou majoritariamente no cuidado com a belicosidade do outro? No cuidado com todos os meneios que o parceiro de jogo poderia ofertar como desafio? De certo que nestas décadas já eram fortes as tendências que falamos acima porém, veja como tudo parece que tomou rumos mais neuróticos, menos conectados - em contrapondo a era da conexão tecnológica? 


É gozado... (risos)... Mas a real é que não conseguimos "gozar" de um bom jogo de capoeira exatamente como temos dificuldades de "gozar" com plenitude a vida em sociedade. Que possamos aceitar que, como dizia Vinicius de Moraes... *"A vida não é brincadeira, amigo... A vida é arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida." Saravá!*

Axé!

Ouça Texto 12_Capoeira sofisticada do séc XXI: entre a potência da felicidade e a felicidade da potência de Mestra Brisa _ Carol Magalhães no #SoundCloud:h

https//soundcloud.app.goo.gl/Zan3c

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ANALOGIAS CAPOEIRANAS: o diálogo entre o "burro" e o "cavalo"


 Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin


Certa feita em uma fazenda lá pelas bandas de Maracangalha, aconteceu uma conversa curiosa entre o burro e o cavalo, sendo o diálogo da seguinte forma:

- Ola Sr. cavalo, como vai? - disse o burro.

- Estou bem seu burro... - respondeu o cavalo.

- Eh....Hoje tá difícil, pois o capataz, sob o pretexto de parecer "dono da razão", colocou a cela em mim muito apertada, mas eu resolvi não reclamar, pois tive medo de uma atitude mais hostil dele... - reclamou o burro.

- Pois é, se fosse comigo eu daria logo um coice.....Comigo é assim, pois resolvo logo.... - disse o cavalo.

- A verdade, Sr. cavalo, é que dói muito a cela apertada, mas mesmo assim não tenho coragem de reclamar, pois esta é a vida que DEUS quer para um burrinho como eu... - afirmou o burro.

- Não tem DEUS certo.....Meto a porrada pelo coice e tá tudo certo! - exclamou o cavalo.

- Eu penso...Se reclamar será pior, pois posso perder minha comida, água e capim...O que será de mim sem estas coisas? São tudo que preciso pra viver... - afirmou o burro.

- Burro, eu sou cavalo, então comigo é diferente...Resolvo logo relinchando alto e distribuindo coices... - exclamou o cavalo.

- Sr. cavalo, o que acha de nos juntarmos e convocarmos os outros bichos para uma assembléia em favor de melhores condições? - perguntou o burro.

- Burro, eu sou CAVALO, e nós não nos misturamos com esta turma inferior...Até você, só falo porque, querendo ou não, temos um pequenino grau de parentesco... - respondeu o cavalo. 


O burro, nem tão "burro", pasmo, saiu triste pensando no pouco ou nulo senso de coletividade do Sr. cavalo, que é bom em dar coices, mas péssimo no quesito de "lutar" coletivamente.


A alegoria da historinha acima ilustra bem o perfil de nossa comunidade de capoeira, pois temos diversos "burros" e outros tantos "cavalos", todos padecendo da incapacidade de mudar sua condição de submissão, uns pela dificuldade em lutar contra a relativa comodidade da subserviência, e outros, pela resposta visceral agressiva totalmente ineficiente pela desarticulação com o "todo", e tola crença que está em condição de privilégio, logo, não necessitando lutar por ganhos duradouros que não sejam do minuto.


A capoeira encerra em sua maior manifestação - a roda, diversos ensinamentos que ajudam na compreensão de possíveis caminhos para avaliar esta historinha alegórica. Se estivermos em um momento difícil, por não termos repertório diversificado para responder a um jogo mais complexo, com um grande capoeira, talvez o melhor a ser feito, neste caso, não é ir ao confronto direto, ou melhor, não se colocar como alguém que se põe a cavar uma derrota para o outro, utilizando uma queda bruta, ou recursos que extrapolam nosso código de ética em capoeira. Talvez uma das saídas seja fazer um jogo onde, reconhecendo a superioridade do "problema", me alio, aprendendo e compondo um dueto, entrando quando posso, saindo sempre que conseguir. Lição nº 1. Se não "guenta" com a situação, "alie-se" a ela", ou como se diz aqui na Bahia, "se não guenta vara meu pai, peça cacetinho".


Outra situação... Se nos arvorarmos a fazer uma roda, e neste dia, nenhum aluno puder comparecer, nem os amigos ou os colegas puderem compor este momento, com certeza, além de não conseguirmos construir uma roda, estaremos fadado a terminar o dia tocando nosso berimbau sozinho e/ou fazendo um treininho básico, "monólogo de mim comigo mesmo", somente para não enferrujar.


Já noutro dia, se conseguirmos reunir uma turma, seja de alunas(os), amigas(os) ou colegas, este momento poderá ser rico, lúdico, uma verdadeira egrégora, caso todas(os) contribuam com sua parcela de conhecimento e energia para edificarem este momento. Isso tudo porquê a roda de capoeira é feita por um coletivo de pessoas que, reunidas, constroem sua energia para benefício de todos(as). Canto, coro, palmas, jogos, múltiplos instrumentos, tudo isto se reúne para, assim, dar o tom deste ritual. Quanto mais sintonizados, maior o AXÉ e a satisfação de quem usufrui deste momento ritualístico. Lição nº 2 "Juntos vamos mais longe".


Enfim, poderia levantar aqui diversas lições a partir da capoeira, MAS o que mais me importa, é deixar o alerta para burros, cavalos, éguas, e toda a bicharada, de que se vocÊ estiver atento, verás o quanto a capoeira nos dá "régua e compasso". O quanto lutar sozinho, nunca foi a lição para o capoeira. O quanto o individualismo é arma de quem de fato NUNCa sentiu a capoeira "EM SUA EXPRESSÃO VIVA".


Acorda CAPOEIRA! Já dizia o ditado popular "Sozinhos vamos mais rápido, JUNTOS vamos mais longe".

Axé!

Ouça Texto 11_Analogias capoeiranas: diálogos entre o burro e o cavalo de Mestra Brisa _ Carol Magalhães no #SoundCloud: https://soundcloud.app.goo.gl/ANWPz

Ei, psiu! Gostou? Então compartilhe, ajude a nossa capoeira a dialogar sobre suas demandas!