12 de fev. de 2021

ANALOGIAS CAPOEIRANAS: o diálogo entre o "burro" e o "cavalo"


 Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin


Certa feita em uma fazenda lá pelas bandas de Maracangalha, aconteceu uma conversa curiosa entre o burro e o cavalo, sendo o diálogo da seguinte forma:

- Ola Sr. cavalo, como vai? - disse o burro.

- Estou bem seu burro... - respondeu o cavalo.

- Eh....Hoje tá difícil, pois o capataz, sob o pretexto de parecer "dono da razão", colocou a cela em mim muito apertada, mas eu resolvi não reclamar, pois tive medo de uma atitude mais hostil dele... - reclamou o burro.

- Pois é, se fosse comigo eu daria logo um coice.....Comigo é assim, pois resolvo logo.... - disse o cavalo.

- A verdade, Sr. cavalo, é que dói muito a cela apertada, mas mesmo assim não tenho coragem de reclamar, pois esta é a vida que DEUS quer para um burrinho como eu... - afirmou o burro.

- Não tem DEUS certo.....Meto a porrada pelo coice e tá tudo certo! - exclamou o cavalo.

- Eu penso...Se reclamar será pior, pois posso perder minha comida, água e capim...O que será de mim sem estas coisas? São tudo que preciso pra viver... - afirmou o burro.

- Burro, eu sou cavalo, então comigo é diferente...Resolvo logo relinchando alto e distribuindo coices... - exclamou o cavalo.

- Sr. cavalo, o que acha de nos juntarmos e convocarmos os outros bichos para uma assembléia em favor de melhores condições? - perguntou o burro.

- Burro, eu sou CAVALO, e nós não nos misturamos com esta turma inferior...Até você, só falo porque, querendo ou não, temos um pequenino grau de parentesco... - respondeu o cavalo. 


O burro, nem tão "burro", pasmo, saiu triste pensando no pouco ou nulo senso de coletividade do Sr. cavalo, que é bom em dar coices, mas péssimo no quesito de "lutar" coletivamente.


A alegoria da historinha acima ilustra bem o perfil de nossa comunidade de capoeira, pois temos diversos "burros" e outros tantos "cavalos", todos padecendo da incapacidade de mudar sua condição de submissão, uns pela dificuldade em lutar contra a relativa comodidade da subserviência, e outros, pela resposta visceral agressiva totalmente ineficiente pela desarticulação com o "todo", e tola crença que está em condição de privilégio, logo, não necessitando lutar por ganhos duradouros que não sejam do minuto.


A capoeira encerra em sua maior manifestação - a roda, diversos ensinamentos que ajudam na compreensão de possíveis caminhos para avaliar esta historinha alegórica. Se estivermos em um momento difícil, por não termos repertório diversificado para responder a um jogo mais complexo, com um grande capoeira, talvez o melhor a ser feito, neste caso, não é ir ao confronto direto, ou melhor, não se colocar como alguém que se põe a cavar uma derrota para o outro, utilizando uma queda bruta, ou recursos que extrapolam nosso código de ética em capoeira. Talvez uma das saídas seja fazer um jogo onde, reconhecendo a superioridade do "problema", me alio, aprendendo e compondo um dueto, entrando quando posso, saindo sempre que conseguir. Lição nº 1. Se não "guenta" com a situação, "alie-se" a ela", ou como se diz aqui na Bahia, "se não guenta vara meu pai, peça cacetinho".


Outra situação... Se nos arvorarmos a fazer uma roda, e neste dia, nenhum aluno puder comparecer, nem os amigos ou os colegas puderem compor este momento, com certeza, além de não conseguirmos construir uma roda, estaremos fadado a terminar o dia tocando nosso berimbau sozinho e/ou fazendo um treininho básico, "monólogo de mim comigo mesmo", somente para não enferrujar.


Já noutro dia, se conseguirmos reunir uma turma, seja de alunas(os), amigas(os) ou colegas, este momento poderá ser rico, lúdico, uma verdadeira egrégora, caso todas(os) contribuam com sua parcela de conhecimento e energia para edificarem este momento. Isso tudo porquê a roda de capoeira é feita por um coletivo de pessoas que, reunidas, constroem sua energia para benefício de todos(as). Canto, coro, palmas, jogos, múltiplos instrumentos, tudo isto se reúne para, assim, dar o tom deste ritual. Quanto mais sintonizados, maior o AXÉ e a satisfação de quem usufrui deste momento ritualístico. Lição nº 2 "Juntos vamos mais longe".


Enfim, poderia levantar aqui diversas lições a partir da capoeira, MAS o que mais me importa, é deixar o alerta para burros, cavalos, éguas, e toda a bicharada, de que se vocÊ estiver atento, verás o quanto a capoeira nos dá "régua e compasso". O quanto lutar sozinho, nunca foi a lição para o capoeira. O quanto o individualismo é arma de quem de fato NUNCa sentiu a capoeira "EM SUA EXPRESSÃO VIVA".


Acorda CAPOEIRA! Já dizia o ditado popular "Sozinhos vamos mais rápido, JUNTOS vamos mais longe".

Axé!

Ouça Texto 11_Analogias capoeiranas: diálogos entre o burro e o cavalo de Mestra Brisa _ Carol Magalhães no #SoundCloud: https://soundcloud.app.goo.gl/ANWPz

Ei, psiu! Gostou? Então compartilhe, ajude a nossa capoeira a dialogar sobre suas demandas!

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