10 de ago. de 2020

O Capoeira baratino: a "falação" como escudo da incompetência na arte

 

O CAPOEIRA "BARATINO":

A "falação" como escudo da incompetência na arte...

Por: Mestra Brisa  e Mestre Jean Pangolin

 

Todos os dias somos bombardeadas por uma enxurrada de falas sobre a capoeira, sendo estas, na maioria das vezes, protagonizadas por pessoas que não possuem uma efetiva organicidade/envolvimento mais direto com a arte, fato que compromete estruturalmente um saber que é constituído eminentemente enquanto fruto da experiência vivida. Neste sentido, trataremos abaixo sobre algumas reflexões em torno da palavra dita e não-emergente da experiência vivida em capoeira.

 

Como é possível descrever o arrepio que sentimos ao escutar mestre Boca Rica, sem nunca tê-lo ouvido? Como é possível falar sobre a sensação de vazio e surpresa frente a rasteira recebida, sem nunca tê-la experimentado? Como sistematizar a experiência de um pôr do Sol no sítio Iemanjá em Paripe (Salvador/Bahia) ao lado do mestre Ângelo Augusto Decânio, ou somente como chamávamos, "Deca", sem ter "bagagem"/respeitabilidade pra estar naquele lugar?... Sem dúvidas, é pouco provável que consigamos encaixotar a experiência vivida da arte capoeira no discurso do "falador/a", pois os aprendizados que brotam destas experiências são as sementes do saber filosófico emanado pela capoeira e reverberado na vida em comunidade.

Obviamente, nos cabe diferenciar a oralidade, daquilo que é a "verborréia desmedida", pois a primeira é um princípio afrodescendente fundante, e este, mesmo fazendo uso da mecânica da fala como o segundo, em nada se aproxima das aberrações apresentadas atualmente nas falas de "garganteiros/as", que pela ausência  de uma vida dedicada ao cantar, jogar, tocar, ensinar, em imersão ritualística, não possuem os subsídios necessários para trilharem o caminho da sabedoria que descortina o cotidiano e seus desafios.

 

Vou trazer exemplos para ilustrar o que pretendo falar... Atualmente, no auge do uso das tecnologias virtuais, em virtude de uma pandemia mundial que confinou seres humanos em suas residências, vejo brotar uma série de pessoas falando sobre capoeira, tratando de coisas que em nada dialogam com a vivência da capoeira,  exercitando uma vaidade, mascarando uma profunda ignorância sobre o "fazer capoeira" que as expõem como "sabedoras" para leigos, e como alienígenas para quem vive esta arte "por dentro".

 

De tudo tenho visto: pessoas falando que o berimbau é indígena...  Que a capoeira é religião... Que a capoeira enquanto arte, tem uma ideologia política... Pessoas defendendo capoeira só para homens, outras só para mulheres... Pessoas contando "histórias da carochinha"... ou simplesmente usando da frieza e potencialidade destas plataformas digitais para manipular coletivos de "garganteiros" e desavisados, cumprindo um desserviço para nossa nobre arte capoeira...

 

Fico me perguntando o que fazer neste emaranhado de encontrados/perdidos? Penso que um encaminhamento possível seja utilizar a própria capoeira como filtro dos capoeiras, ou seja, tendo a paciência necessária para a "volta ao mundo", aguardando a "compra" do próximo jogo que separará o "joio do trigo", revelando os farçantes e apresentando os que "têm bala na agulha".

 

Te pergunto então: quem é você? de onde vem sua fala? de intrigantes anos de mergulho profundo na dor e delícia de ser Capoeira ou de uma vida de esconderijos que lhe protegeram/impediram de hoje produzir uma fala assentada no "chão da roda"?

 

Axé!

 

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