13 de out. de 2020

ARMANDO O BERIMBAU DA VIDA

 

Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin

  

A reflexão que se segue tentará aliar alguns princípios que devem reger nossas vidas e como estes podem se interligar com a dinâmica de armar um bom berimbau. Desta forma, tentaremos expor algumas possíveis metáforas da capoeira na vida.

 

Inicialmente, logo de partida, é preciso lembrar que para armar um bom berimbau teremos, antecipadamente, que escolher as partes que o compõem com grande cautela, pois se a biriba não casar bem com a cabaça, todo o processo de armação será ineficiente para harmonização do instrumento, ou seja, trazendo para a vida, antes do passo em direção a construção de algo, é fundamental verificar se as "partes" que se juntam na ação podem se "encaixar perfeitamente", talvez por isso tantos casais, sabiamente, namorem por um tempo antes de firmar compromisso de matrimônio.

 

Ainda tratando das partes, vamos falar da biriba... Uma biriba de boa qualidade precisa ser bem feita, descascada, lixada, cuidada e "amaciada" pelo uso, pois apenas nessa lida, com as intempéries do dia a dia, ela poderá se transformar na biriba ideal, que por mais enfeitada que seja, será sempre qualificada de verdade pela harmonização com outra parte, a cabaça. Assim, como na vida, cada pessoa precisa ser mais do que os enfeites que carrega e da aparência que apresenta, pois sua real beleza sempre estará na capacidade de lidar com a diferença, e semelhante a biriba, é o tempo REI que se encarrega de nos burilar com as provações necessárias para atingirmos a tal beleza REAL, aquela que não se vende na esquina, mas que adorna corações sensíveis ao bem.

 

Armar um berimbau exige TEMPERANÇA, CUIDADO e EQUILÍBRIO no uso da força, pois qualquer movimento mais desatento poderá romper a integridade de alguma das partes do conjunto. Levando este ensinamento para a vida, essas são qualidades fundamentais no exercício de viver em comunidade, pois como dizem as escrituras sagradas "Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra" (Mateus 5:5)... A analogia com a bíblia, para além de uma interpretação rasa em proselitismo religioso, é trazida, pois fundamenta a lógica de que na "construção" de qualquer obra, é preciso calma e bom senso.

 

O líder religioso Dalai Lama afirma que "a paciência protege a nossa paz de espírito diante da adversidade. É uma resposta deliberada às fortes emoções e aos pensamentos negativos que tendem a surgir quando encontramos algo que nos faz mal". Neste sentido, reafirmamos que, como na vida, na arte capoeira, calçar a biriba em um bom lugar de apoio, fixar as mãos na altura da enfieira, colocar o joelho no centro da verga, cuidadosamente, em movimento simultâneo de pé, mãos e joelho, definitivamente é algo que nos exigirá concentração, uma boa dose de paciência e TEMPO, nos servindo como experiência viva do conselho do Mestre Dalai Lama.

 

Enfim, biriba e cabaça em harmonia, gerando o axé que mobiliza vidas em torno do ritual da roda, não são frutos do acaso, são fruto da reunião de diversos conhecimentos e valores ancestrais... Ou seja, temperança, cuidado, equilíbrio, paciência, atitude e  perseverança são valores que, se reunidos, armam um bom instrumento, mas também erguem uma vida de prosperidade.

Se nós conseguirmos trazer os ensinamentos que a capoeira nos dá em cada ritual, em cada instrumento preparado e tocado, em cada jogo feito, aula dada, em cada evento ou viagem realizados, ou em cada dia em que não desistiu da arte, com certeza poderás dizer "a capoeira é minha filosofia de vida", com certeza poderá afirmar "eu sou a própria capoeira".

 

Axé!

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Ouça grátis áudio deste texto:

https://soundcloud.com/mestra-brisa-carolina-magalhaes/texto-9-armando-o-berimbau-da











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