Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin
O antigos sempre
diziam..."fulaninho mirou no peixe e acertou no gato"..."eita
pessoa de sorte"... Seria bom se fosse sempre assim, ou seja, se o
descompasso entre o objetivo final e o caminho para alcançá-lo pudesse sempre
ser corrigido pelas mãos do "destino". Neste sentido, trataremos nas
linhas que seguem de alguns desencontros vivenciados na capoeira, considerando
a diferença entre o que queremos e aquilo que, de fato, estamos fazendo para
alcançar dado objetivo.
É comum ouvirmos de vários
capoeiras que os mesmos sonham com a emancipação da arte e conseqüente
valorização das culturas populares de matriz africana, contudo, muitas vezes,
aqueles que sonham com a tal mudança, são os protagonistas diretos de
comportamentos humanos que depreciam a capoeira e toda sua comunidade.
Não é difícil encontrar capoeiras
que tem atitudes extremamente violentas em roda, e que quando conversamos com
eles sobre suas metas dentro da arte, eles afirmam que desejam ver mais
respeito no jogo e valorização dos fundamentos....oxente!....O que é isso? Uma
espécie de catarse coletiva?.... O fato concreto é que muitos nem sequer
conseguem perceber o disparate entre sua fala e suas atitudes.
Outro dia conheci um cidadão que
FORA da roda era calmo, manso, falava sobre educação e respeito em suas aulas,
defendia a cultura de paz em suas palestras dizendo que a capoeira é um
excelente instrumentos para este objetivo, até mantinha uma vida saudável,
alimentação vegetariana, fazia Yoga, e, pasmem, quando ADENTRAVA o espaço da
roda, se transformava no pior dos indivíduos, despropriado de qualquer senso de
cuidado consigo e com o outro, só querendo jogar pra cima, veloz e sempre fora
do ritmo da bateria, em franco "ataque epiléptico", combinando
vaidade e desatenção com o que fala e deseja em seu estado de
"repouso". Quantas vezes você se deparou com um capoeira destes?...
Pois é!?
Outro dia li um texto de um
destes "revolucionários do minuto", aqueles que não conseguem nem
equilibrar suas próprias vidas, mas se arvoram a "lutar" pela
humanidade... (só rindo)... No texto, este indivíduo, em tom eloqüente,
defendia a importância dos editais públicos para os antigos mestres de
capoeira, mas, contraditoriamente, a mesma figura do discurso bonito estava
envolvida com atos ilícitos na gestão de verba pública de editais...
Epa!!! Pára tudo !!! É muita loucura
e/ou falta de caráter...
Em tempos de forte discussão
sobre a regulamentação profissional da capoeira, por exemplo, tenho visto
muitas pessoas defendendo o respeito as diferenças e o amplo exercício
democrático, contudo, ao mesmo tempo, apóiam uma lógica de gestão para a
capoeira que estabelece uma reserva de mercado controlada por uma CRECA
(Conselho Regional de Capoeira) que, possivelmente, será capitaneado por
pequenino "grupinho" de egos desfilantes... Ahhhh, CRECA foi um termo
cunhado pelo amigo, Mestre Jones Birro Doido, que retrata com maestria a "ferida"
aberta em nossa arte... Minha gente, cadê o bom senso dos defensores da tal
CRECA?
Pense comigo outra situação...
Quando algum capoeira, dizendo-se "ativista étnico" em favor do povo
preto, jogam com identidade totalmente vinculada a lógica de ocidentalização da
capoeira, valorizando exageradamente a performance individual, a
espetacularização do jogo e um profundo esvaziamento ritualístico, negando
muitos dos princípios afrodescendentes, o que ele DE FATO representa? Se nem ao
menos se percebem fortalecendo um formato de capoeira que NEGA e negligencia
sua própria ancestralidade, NÃO estaria ele depondo CONTRA sua "bandeira
de luta"? Isso é ingenuidade ou má fé?
Ou seja, qual a ligação entre o
que falo e o que faço? Entre o que desejo e o que faço para alcançar? Se pudermos
lembrar que "Quem planta colhe", que "Se plantas limão, só
poderás colher limão", e que "tudo que semeias, cedo ou tarde, terás
que colher" TALVEZ comece a se perguntar "O que estou
plantando?" para ver se, de fato, COLHERÁS o que desejas!
Axé!
Ei, psiu, gostou? então compartilha, ajude nossa arte a
refletir e crescer!
Escute o áudio deste texto, basta clicar no link abaixo:
https://soundcloud.com/mestra-brisa-carolina-magalhaes/texto-10-des-caminhos-da
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