29 de out. de 2020
Em 2020, convite para participar do Conselho de mestres da World Capoeira Federation!
Em 2020, ingresso no conselho de mestres da World Capoeira Federation, levando a missão de representar o olhar para segmentos específicos dentro da cultura da Capoeira. Serei a primeira mulher de muitas a fazerem esta representação com competência, reconhecimento e responsabilidade.
Missão dada, missão cumprida!
Grata pelo convite!
Lives com a Mestra BRISA neste período pandêmico _ MAIO a OUTUBRO/2020
Então... A gente fica em casa mas não pára de produzir e interagir com a nossa capoeira...
Lives com a Mestra BRISA neste período pandêmico _ MAIO a OUTUBRO/2020
Live com a FEderação Paulista de Capoeira e Escola Internacional de Caoeira, venha, participe!
Conversamos com os professores Eduardo Okuhara e Ana Cristina...
Live com a Mestra Brisa.
13 de out. de 2020
ARMANDO O BERIMBAU DA VIDA
Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin
A reflexão que se segue tentará aliar alguns princípios que devem reger nossas vidas e como estes podem se interligar com a dinâmica de armar um bom berimbau. Desta forma, tentaremos expor algumas possíveis metáforas da capoeira na vida.
Inicialmente, logo de partida, é preciso lembrar que para armar um bom berimbau teremos, antecipadamente, que escolher as partes que o compõem com grande cautela, pois se a biriba não casar bem com a cabaça, todo o processo de armação será ineficiente para harmonização do instrumento, ou seja, trazendo para a vida, antes do passo em direção a construção de algo, é fundamental verificar se as "partes" que se juntam na ação podem se "encaixar perfeitamente", talvez por isso tantos casais, sabiamente, namorem por um tempo antes de firmar compromisso de matrimônio.
Ainda tratando das partes, vamos falar da biriba... Uma biriba de boa qualidade precisa ser bem feita, descascada, lixada, cuidada e "amaciada" pelo uso, pois apenas nessa lida, com as intempéries do dia a dia, ela poderá se transformar na biriba ideal, que por mais enfeitada que seja, será sempre qualificada de verdade pela harmonização com outra parte, a cabaça. Assim, como na vida, cada pessoa precisa ser mais do que os enfeites que carrega e da aparência que apresenta, pois sua real beleza sempre estará na capacidade de lidar com a diferença, e semelhante a biriba, é o tempo REI que se encarrega de nos burilar com as provações necessárias para atingirmos a tal beleza REAL, aquela que não se vende na esquina, mas que adorna corações sensíveis ao bem.
Armar um berimbau exige TEMPERANÇA, CUIDADO e EQUILÍBRIO no uso da força, pois qualquer movimento mais desatento poderá romper a integridade de alguma das partes do conjunto. Levando este ensinamento para a vida, essas são qualidades fundamentais no exercício de viver em comunidade, pois como dizem as escrituras sagradas "Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra" (Mateus 5:5)... A analogia com a bíblia, para além de uma interpretação rasa em proselitismo religioso, é trazida, pois fundamenta a lógica de que na "construção" de qualquer obra, é preciso calma e bom senso.
O líder religioso Dalai Lama afirma que "a paciência protege a nossa paz de espírito diante da adversidade. É uma resposta deliberada às fortes emoções e aos pensamentos negativos que tendem a surgir quando encontramos algo que nos faz mal". Neste sentido, reafirmamos que, como na vida, na arte capoeira, calçar a biriba em um bom lugar de apoio, fixar as mãos na altura da enfieira, colocar o joelho no centro da verga, cuidadosamente, em movimento simultâneo de pé, mãos e joelho, definitivamente é algo que nos exigirá concentração, uma boa dose de paciência e TEMPO, nos servindo como experiência viva do conselho do Mestre Dalai Lama.
Enfim, biriba e cabaça em harmonia, gerando o axé que mobiliza vidas em torno do ritual da roda, não são frutos do acaso, são fruto da reunião de diversos conhecimentos e valores ancestrais... Ou seja, temperança, cuidado, equilíbrio, paciência, atitude e perseverança são valores que, se reunidos, armam um bom instrumento, mas também erguem uma vida de prosperidade.
Se nós conseguirmos trazer os ensinamentos que a capoeira nos dá em cada ritual, em cada instrumento preparado e tocado, em cada jogo feito, aula dada, em cada evento ou viagem realizados, ou em cada dia em que não desistiu da arte, com certeza poderás dizer "a capoeira é minha filosofia de vida", com certeza poderá afirmar "eu sou a própria capoeira".
Axé!
Ouça grátis áudio deste texto:
https://soundcloud.com/mestra-brisa-carolina-magalhaes/texto-9-armando-o-berimbau-da
5 de out. de 2020
CAPOEIRA é coisa de "MACHO"!?
Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin
Nascemos homens e mulheres, mas o mundo pode nos tornar, culturalmente, a expressão de uma caricatura mal resolvida de "macho ou fêmea", ou seja, somos mais do que a objetividade biológica determinada geneticamente. Neste sentido, me parece oportuno dialogar sobre a expressão desta tal "macheza" na arte capoeira.
A maioria dos homens é educado para ser truculento
e rude, como forma de expressão para conquista de seu espaço de poder, seja
este relacionado a outro homem, ou a uma mulher. Assim, invariavelmente, nos
transformamos em uma espécie de "ogro afetivo", em busca de uma
aceitação social, para um papel predeterminado que assegura uma
heteronormatividade e um patriarcado hegemônico.
Desde a mais tenra idade, sempre ouvi expressões
como: "homem não chora", "tem que brincar de luta",
"mulher gosta que pegue com força", "o homem é o esteio da
família", "o macho de verdade nunca brocha"....E por aí
vai....Ou seja, quem não se enquadra neste perfil de masculinidade tóxica, não
será digno da respeitabilidade social. Assim, concretamente, mesmo reconhecendo
todo o sofrimento social histórico das mulheres, me permito dizer que ser
"gente" neste mundo adoecido, é ruim para ambos os sexos.
Na capoeira este perfil adoecido esta por toda
parte, na truculência do jogo, na objetificação dos corpos, na
"sexualidade vazia", nas reflexões limitantes pela cor da pele e/ou
gênero, enfim, são muitos os exemplos nocivos ao fluxo das culturas populares,
e conseqüentemente na emancipação humana pela arte de matriz africana.
As pessoas na roda se transformaram em números de
"grupos-produto", não se conectam entre si, apenas disputam espaços
de poder, como uma odisséia desvairada em busca de uma significação social
validada por um determinado "coletivo", que faz da capoeira apenas um
veículo de exercício da neurose de pessoas "perdidas/encontradas"
pelo ódio adquirido numa vida de culpas e repressões.
Analise comigo... A capoeira, enquanto arte nascida
em terreno ocidental em diálogo direto diaspórico africano, guarda uma relação
de flerte tanto com a matriz africana, quanto com as forças do patriarcalismo,
um sistema social em que homens mantêm o poder primário. Nesse "jogo"
de relações, os valores civilizatórios africanos (circularidade,
ancestralidade, memória, axé - energia vital, musicalidade, etc) tendem a ceder
lugar para que a energia do masculino, modele nossas ações dentro da arte
capoeira, construindo uma série de padrões adoecidos/tóxicos tanto para homens,
quanto para mulheres.
Mas isso quer dizer que a energia masculina é
perigosa? é ruim? Definitivamente, NÃO! Dentro de homens e mulheres, segundo
estudos na área da psicologia, coexistem as duas energias, sendo a energia do
masculino, relacionada a força da ação, razão, da exposição, tendo o astro-rei
Sol como símbolo, e a energia do feminino, relacionada a força do sentir, do
recolhimento, do anoitecer, do inverno, ligada a Lua. Ou seja, se nossa
sociedade reconhece e valoriza a força masculina, negligenciando e
discriminando tudo que se relaciona a força do feminino, como exigir que
possamos nos olhar dentro de uma roda, sem predispor a disputa de poder neste
local?
Nesta mesma linha de raciocínio, como exigir que
numa roda de capoeira que tenhamos a sensibilidade para uma atitude educada,
sensível, humanizada e cortês, se na exacerbação do masculino, tudo que é
validado é o comportamento agressivo, bruto e concorrente? Se, ao ser cortês, o
homem é tido como fraco e não-viril, e a mulher é promíscua e disponível.
Este exemplo nos convoca a pensar num movimento que
possa fazer um contraponto a este grande desequilíbrio estrutural, naturalizado
em nossa comunidade. O primeiro é um movimento de RECONHECIMENTO destas forças
que habitam em cada um de nós, e que se sufocadas (o feminino em mulheres e
homens) trarão sempre o adoecimento das pessoas por não poderem se permitir a
harmonia.
E o segundo movimento será o de estabelecer um JOGO
DE CAPOEIRA, dialógico e às vezes tenso, com os padrões sociais estabelecidos
para homens e mulheres, revendo os que forem nocivos e que subordinam seres
humanos pela competição desleal, autoritarismo, hierarquização das relações,
truculência e falta de diálogo ou de recuo.
No final das contas é dizer que a energia feminina
que mobiliza o RECUO, não configura a perda, e que a energia masculina que
projeta o AVANÇO, nem sempre garante o ganho, pois tudo é parte de um meneio de
"jogo" na vida, vislumbrando dias melhores!
Axé!
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Escute também no APP Soundcloud, no perfil da Mestra Brisa:
https://soundcloud.com/mestra-brisa-carolina-magalhaes/texto-8-capoeira-e-coida-de